18.11.07

bagaceira # 10



...

PO(L)VO

SEM

(A)BRAÇOS


Muryel de Zoppa
http://grupomola.blogspot.com/

********

sua boca,

ao fumar
os ventos
do segredo,

queimou
o eclipse
dos afogados

e desvendou
os submersos
cuidados

que morriam
sobre as águas
do medo.


Anderson H.
http://grupomola.blogspot.com/

**********************

menina de ossos que rouba segredos
nada se podia captar daqulela atmosfera pálida
só os olhos da menina esganiçada e sádica
a fitar-me
como quem rouba um segredo

Sentia-me invadida pela bela ladra
mas protegida por ter meus segredos
disfarçados de brinquedos
jogados no quintal sob o sol

Sob o sol eu morria
beijada pelos meus pecados
arrependida por não ter condensado
alvejado feito metralhadora
chovido torrencialmente
a palavra eterna, mesmo que dela eu nada saiba

nos olhares de ossos da menina
na medula torta, grave e drogada
deste estranho mundo
apocaliptico, florido, deflorado e imundo.

Venha visitar-me à meia noite, palavra eterna
arromba a porta do meu quarto, viola-me, rasga as minhas crenças
já não faz a menor diferença
mas me esqueça de contar-me todas as suas terriveis verdades
confissões trêmulas, cicatrizes de um punhal gris

façamos este acordo
porque se sussurraste seus incêndios, seus surtos
palavra nenhuma poderá mais brotar no meu mundo

(aurora escurecida)

Rita Medusa

*****************

POLÍTICA DE ESCRITA

ou A BÚSSOLA PESSIMISTA


Tal se pode haver sinisitro oriente,
eu poderia endireitar o ocidente
com osso e dente.

Ao leste a cor (vermelha),
a oeste o (verde) ardor.

Mas há antes nosso dentro,
o infindo fundo da gente,
reflexo advindo do ontem
que beija e deixa o centro.

Onde há onde há também passagem.

Do sul ainda fica o sufoco
para aos poucos nortear
ofegante inspiração,
sem parar ou pirar
nem pisar passado chão.

Minha rosa é dos cata-ventos.

E assim decolo novamente,
pouso outra ponta que aos poucos adentre
e torne-se ventre ou transforme-se eixo
ou um ponto pesado
que dê à página a forma que for,
e o lápis deixo
ao norteador.


Leandro Jardim
http://florespragasesementes.blogspot.com/

*****************

alegoria

desfilou sozinho
tal quem impera
sambou soberano
sem ter alegoria
para se vender

e recordei-me
que se vangloriava
pelas madrugadas
black in roll
cheio de gim e de si

agora vejo-te
lágrima
disfarçada
de riso, em plena avenida
dizendo
até o fim

vou para ti
vou para ti
Paraty...


Larissa Marques
www.larissamarques.com

Patrocínio Editora Utopia