18.11.07

bagaceira # 10



...

PO(L)VO

SEM

(A)BRAÇOS


Muryel de Zoppa
http://grupomola.blogspot.com/

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sua boca,

ao fumar
os ventos
do segredo,

queimou
o eclipse
dos afogados

e desvendou
os submersos
cuidados

que morriam
sobre as águas
do medo.


Anderson H.
http://grupomola.blogspot.com/

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menina de ossos que rouba segredos
nada se podia captar daqulela atmosfera pálida
só os olhos da menina esganiçada e sádica
a fitar-me
como quem rouba um segredo

Sentia-me invadida pela bela ladra
mas protegida por ter meus segredos
disfarçados de brinquedos
jogados no quintal sob o sol

Sob o sol eu morria
beijada pelos meus pecados
arrependida por não ter condensado
alvejado feito metralhadora
chovido torrencialmente
a palavra eterna, mesmo que dela eu nada saiba

nos olhares de ossos da menina
na medula torta, grave e drogada
deste estranho mundo
apocaliptico, florido, deflorado e imundo.

Venha visitar-me à meia noite, palavra eterna
arromba a porta do meu quarto, viola-me, rasga as minhas crenças
já não faz a menor diferença
mas me esqueça de contar-me todas as suas terriveis verdades
confissões trêmulas, cicatrizes de um punhal gris

façamos este acordo
porque se sussurraste seus incêndios, seus surtos
palavra nenhuma poderá mais brotar no meu mundo

(aurora escurecida)

Rita Medusa

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POLÍTICA DE ESCRITA

ou A BÚSSOLA PESSIMISTA


Tal se pode haver sinisitro oriente,
eu poderia endireitar o ocidente
com osso e dente.

Ao leste a cor (vermelha),
a oeste o (verde) ardor.

Mas há antes nosso dentro,
o infindo fundo da gente,
reflexo advindo do ontem
que beija e deixa o centro.

Onde há onde há também passagem.

Do sul ainda fica o sufoco
para aos poucos nortear
ofegante inspiração,
sem parar ou pirar
nem pisar passado chão.

Minha rosa é dos cata-ventos.

E assim decolo novamente,
pouso outra ponta que aos poucos adentre
e torne-se ventre ou transforme-se eixo
ou um ponto pesado
que dê à página a forma que for,
e o lápis deixo
ao norteador.


Leandro Jardim
http://florespragasesementes.blogspot.com/

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alegoria

desfilou sozinho
tal quem impera
sambou soberano
sem ter alegoria
para se vender

e recordei-me
que se vangloriava
pelas madrugadas
black in roll
cheio de gim e de si

agora vejo-te
lágrima
disfarçada
de riso, em plena avenida
dizendo
até o fim

vou para ti
vou para ti
Paraty...


Larissa Marques
www.larissamarques.com

Patrocínio Editora Utopia

18.9.07

bagaceira #9




Náusea
.
Arrasto-me e alguma coisa sussurra:
“Hoje a noite não será pura”
Gargalho com pétalas esmigalhadas na mão
Rio porque já conheço essa frase
Mergulho porque bem sei da danação
Alucino bocas podres
Elas querem dizer algo
Mas se desfazem...
Por favor, não prenunciem o mal!
Estou cansada e suja, sempre maldita
Na boca do lixo, comendo restos de sonhos
Escrevendo cartas para meu amigo invisível e medonho
Que nem sequer ler sabe
Mas sabe gritar no meio da noite
E atear fogo nas cartas, sem sequer abri-las
Adestrou-me no pequeno delito
De roubar flores no cemitério carnal
E oferecê-las á damas mafiosas e petrificadas
Macumbeiras do dizer e do amar
Alquimistas da beleza secreta
Escondida nas coisas mínimas
E quando desmaio ao relento
Ou vomito ao pé do escatológico
Há um altar para tudo isso
Até para carcaças, cantigas de piratas e olhos esbugalhados
Voodus, nojeiras e coroa de punhais
Tudo isso faz arder
Brilha frenesi...
Ave puta, ave palavra, ave náusea!


Rita Medusa

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A poesia e a cidade


a poesia,
como as cidades,
sofre (trans)mutação
de c(d)ores e c(v)alores
com o decorrer do tempo.

são (re)desenhadas
suas (de)formações,
(a)os mur(r)os e
fronteiras
(solavancos),
em tropeços.

criam imagens
(des)pretensiosas
que objetivam
(cor)romper
os costumes e leis
ingovernáveis.

e trazem em si
pessoas concretas
re(di)solutas,
cheias de t(h)umores,
quase sempre
(hum)ilhadas.


Leonardo Quintela
http://leonardoquintela.blogspot.com/


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un novo homem

após uma noite de domingo inteira nas trevas ajoelhou-se frente a imagem de nossa senhora e prometeu: - nunca mais vou cheirar, beber, fumar, fuder sem camisinha, arrumar briga em bar, falar mal de deus, ofender pai e mãe e dar em cima de mulheres casadas. na segunda-feira de manhã, ainda com o nariz entupido e o estômago em chamas, fez o sinal da cruz, rezou um pai nosso, tomou banho, fez a barba, escovou os dentes, beijou a esposa e foi trabalhar. chegando ao escritório rezou novamente e pediu aos santos um bom dia de trabalho. no almoço dispensou a cerveja e comeu salada, peixe, arroz e feijão. um dia maravilhoso! às dezoito horas era a cara do herói. - um dia limpo! e ainda por cima de pagamento! pegou seu salário e se dirigiu a bodega do alencar. ia pagar a conta e nunca mais pisaria ali. era outro! tirou seus trezentos e cinquenta reais do bolso, pagou a conta e ganhou, por cortesia, um rabo de galo, sua bebida predileta.

Anderson H.
http://grupomola.blogspot.com/

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DES/CONSTRUÇÃO

Ontem chora o futuro.
É a opulência das lágrimas
que prediletam-lhe os olhos.

Ora,
repetição vã;
Pois sua prece é de pedra
e há reboco em seu coração.

Paixão...
é saltar sem asas.

É sufocação.


Muryel de Zoppa
http://grupomola.blogspot.com/

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não sei o que me move
se é tudo fosco
tudo mole
desfarela
ou derrete
num toque
num sopro

não sei o que me fode
se é tudo tosco
tudo prole
desvela
ou compete
num furo
num muro.

Larissa Marques
www.larissamarques.com


Patrocínio Sinos Papelaria

18.7.07

bagaceira #8




Pés de nuvens

As ondas
das ruas onde pisam
meus pés de nuvens
nuas cores que passam
através
do tempo ligeiro
escorrem
pelos bueiros
e pelo revés
do amarelo do entremeio
dos portões da vida.

Caroline Schneider
http://monopolio.blogspot.com/

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Pedras do castelo


As pedras no caminho? Guardo todas...
Um dia vou construir um castelo

...

Por muitos caminhos não retos devo guardá-las?
Todas essas pedras que colocam em meu caminho?
Para construir o meu esperado castelo
Na larga terra escolhida para meu definho?

É esse o tal esperado vindouro?
Quando chegar lá, será de pedras o meu tesouro?
Apenas pedras postas ali mesquinhas e obtusas?
Apenas pedras frias, pesadas e mudas?

Elas não passam de frustradas, isso sim!
Pois das montanhas não passam de farelos...
Servem apenas para levantar paredes,
Jamais por si suficientes para construir castelos!

E as janelas, jardim, cama, endereço?
E o reino, rainha, portas e portões?
As pedras têm objetivo maior que o tropeço,
Elas juntas têm habilidade de formar prisões

Assim só terei pedras, apenas pedras terei...
Além de paredes o que mais eu farei???
Talvez me apedrejar de forma voraz...

Então escrevinho:
As pedras no caminho? Deixo para trás...
Nenhum dia vou construir qualquer parede...



Augusto Sapienza
http://tomospoeticos.blogspot.com/

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Brinquedo das madrugadas brancas

Meu realejo de música estúpida
Tirai a sorte do meu maníqueismo triste
Dos fantasmas que comigo dividem a cama
E estamos quites
Das mentiras que engulo como sobremesa
Fui plastificada,encaixotada
Adquirida por uma criança
Que comigo nunca quis brincar




Virei túnel e absinto
Para ratos roerem meus sonhos
Fica aqui mais um instante!
Meu próprio ser é para mim
Lugar medonho
Meu corpo não tenho sentido
Sou vândala das madrugadas brancas
Saqueio,engano,vacilo
Ensaio coisas estranhas


Oro em altares rubros
Marginalizo feras mansas
Aprendiz do obscuro
E ainda assim o brinquedo da criança.

Rita Medusa

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Teu Escravo

Dá-me a cicuta de teus lábios
Embriaga-me em teus prazeres
Mata-me agora com teus venenos
Faz-me teu escravo, teu zumbi

Mumifica meu corpo
E introduza-me em teu mausoléu
Rouba-me deste chão
Rouba-me do céu

Leva-me aos teus lençóis!


Flávio Offer

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Impero-te soberana
Sou rainha de teus poros
Musa de teus pensamentos
Não respiras sem mim
Meus olhos te protegem de tudo
Minha boca profetiza tua história
Minhas mãos afugentam teu medo
Minha voz faz vibrar teu coração...
Só conhecerás a felicidade ao meu lado
Sou teu centro, teu absurdo
Meus ombros carregam tua vida
E cativei-te sempre
Para ter-te por completo, no fim.

Larissa Marques
www.larissamarques.com

Patrocínio Sinos Papelaria

15.5.07

bagaceira #7



Pessoas perfeitas


Pessoas perfeitas,
Corrosivas,
Envoltas em nuvens de hipocrisia.
Seres sem defeitos,
Sem atrativos,
Sem poesia.
Filhos de uma perfeição infeliz
Que mata a linha do horizonte
E faz com que o pico do monte
Seja a ponta do próprio nariz.

Pessoas perfeitas não são mais que um nada
No meio do mundo de Deus.

Anderson H.
http://grupomola.blogspot.com/


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Soneto pra Começar e Terminar um Amor


Fico triste por não ter cometido
Em toda minha vida desregrada
Uma maluquice e uma exagerada
Sacanagem contigo sem ter mentido.

Falsa verdade não ter te vivido
Como foste inteira em minha vida
Louca, ávida e de tão decidida
A amar, que pareceu não ter sentido,

Dizer-me do vão momento estúpido,
Quer a certeza ou dúvida que ilude
Quem vive como eu, sem ter pendido.

Eis que neste instante, sóbrio e lúcido
Por já ter sofrido tudo o que pude
Que enfim e tarde me dou por vencido.

Leonardo Quintela
http://leonardoquintela.blogspot.com/

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ainda me sobram
ovários estéreis
e palavras idem
não tenho mais artifícios para
(pro) criação
vagina e fala secas
rachadas no ventre
em inanição
não há cura para
(des) inspiração.

Pagu
http://pactopagu.blogspot.com/

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conchas quebradas dentro do pensamento
construido um templo
de vozes e vísceras
de caminhos estraçalhados
repletos de uma luz de um sol triste
onde gozam os desgraçados

dominadores e julgadores
serão expulsos
os falsos inocentes
abençoados no pútrido
mar de agulhas
que cantam para ampulhetas
ar do lodo
homens nervosos na forca da aranha
conceitos e pensamentos da moda são mero papel higiênico
lagrimas são rosas
oferecidas ás mulheres loucas
desnudadas,no extase
da arte lunática e do amor sujo
que são conchas quebradas
dentro do meu pensamento

maravilhamento
overdose de ilusão
redes emaranhadas com seios
entupidos de escuro

que entre nessa estranha seita
quem for escravo da solidão
ou despencar no abismo
o resto?
seria o cúmulo do meu cinismo

por favor
se interna na minha cabeça
cola as conchinhas
e se deita
(sonhos nosso alimento)

RITA MEDUSA

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acendo cigarros para
vê-los queimar
deixei de me avisar
dos perigos que rodeiam
os que não oram

sou ateu e pagão

e esse muro enorme
é duro e discreto
e seus tijolos vermelhos
só servirão
todos de arrimo
para chocar-me com eles
até virar concreto.

Larissa Marques
www.larissamarques.com

Patrocínio Sinos Papelaria

13.4.07

bagaceira #6

( desenho de Larissa Marques)


Meu olho esquerdo
Não repare
Não me olhe muito
Pois percebi agora
Que meu olho esquerdo
É enorme
Mais permissivo
Mais revelador
Menos punitivo
Menos constrangedor
Quem me dera tivesse
Dois olhos esquerdos
Para ver apenas um lado
Para perceber melhor os outros
Pois meu olho direito
Só inflama
Só me reprime
Só me engana.


Larissa Marques
www.larissamarques.com

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MULHER, COM ALMA GUERREIRA

Há flores no meu quintal Pois a mim, ninguém as oferta
A bem da verdade,
Nasci no corpo errado...
Sou mulher, com alma guerreira
Vim a esta terra Para lutar como homem...
Pelo sustento da família
Pelo sorriso todo dia
Pela própria harmonia!
Nenhum ramalhete em prol da doçura
me foi doado
Não me foi dada a chance de ser delicada
e frágil
Mas enquanto ninguém descobre a mulher
por trás da armadura de guerreira
Vou pelo mundo, ofertando minhas pétalas ao
passar
E a brincar com o flip-flap das felizes borboletas


que em mim reconhecem o colorido da alma
que só uma verdadeira mulher possui...
o colorido de quem sabe plantar e semear e
colher e desfrutar
das flores de seu próprio jardim!


Caroline Schneider
http://www.monopolio.blogspot.com/

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Dos Presságios.
Eu gosto desse instante que ainda é quando,
Inquietudes em longos passeios pela veia.

Eu acho bonito esse vulcão sustenidoE o gesto contido, porque a alma receia.
Eu sinto na pele a ingenuidade leve
De um apelo percorrendo os pêlos

Caindo dentro como se fosse neve.Eu acho belo o caminho do arrepio
Esse caminho torto por onde espio
Estrelas de pressa florescendo esperas.

Não sei o porquê nem sei se será
Mas a sensação troteando meu peito
É, das coisas sem jeito, a que mais me dirá.

" Rayanne" (Juliana Luisa Brandão)
Http://meucontratempo.blogspot.com

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poema estranho
Se escuta aqui
Que não é assim
Que não é nada assim
Que todo sofrer é ar cênico
Mas é .
Arsênico.


Que não é coisa temporária.
Mas é.
Água sanitária.
Que nem sempre a vida é curta
Mas é.
Cicuta,
Aqui.


Escuta aqui
Escuta esse último movimento


Porque dói.
Dói como veneno
lá dentro.


Czarina das quinquilharias
www.sabedoriadeimproviso.wordpress.com

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ENQUANTO FALO
Enquanto a mão explora
A pele exposta
E contorna a forma firme
Que se mostra...
Enquanto a língua se enrola
Nos pêlos e faz o desenho da trilha
Que vai do umbigo à virilha
E é percorrida pelos dedos
Enquanto os lábios se molham
Na saliva que engulo
E misturo com o sêmen
Que me jorra por dentro...
Você lateja e me beija,
completo e saciado
enquanto na boca guardo
(ainda ereto)
o gosto do falo


Sandra Souza
http://www.feitaemversos.blogspot.com/

Patrocínio Sinos Papelaria
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9.4.07

bagaceira #5





Para meu pequeno príncipe...
Os mundos se dobram em sua reverência
Quem é você que caminha triunfante
Rumo às escadarias de seu trono?
Descubro-te novo a cada dia
Sem padrões ou referências
Seu reino é o ócio
O hedonismo é sua coroa
Cultua apenas sua vida
E seu cachimbo esfumaçantes
Seus ombros sustentam
Seu manto e sua loucura
Seu país é seu canto escuro
Seus cafés, seus muros
Não ousam compará-lo
É único, meu dândi...
Ah, meu neurótico reizinho!
Os tambores de meu peito
Ainda clamam por ti
Mas flutua majestoso
Ignorando meu existir
Como ignora seus inimigos
Mas não me importo
Pois somos todos seus súditos
Salve, meu pequeno príncipe!




Poema para meu amigo Otávio Augusto Marin






Sob teus cabelos ruivos
Pousam as borboletas perfeitas
Que a natureza pôde criar
Nos seus olhos mares
Flutuam lúgubres
Os veleiros que hão de naufragar
Passiva e altiva
Dorme em seu leito de pedras
Mas nada te fere
Nada te atinge
Tem uma couraça dura
Que envolve sua essência
E como num entardecer sem lua
Seus cabelos jogam-se
Sobre seu rosto perfeito
É tudo que almejo ser
Sonha, minha cara
Pois a vida ainda te espera
Sonha, que velo por ti.



Para minha querida amiga Caroline Schneider




Caminha só pelo vale
Que já foi meu
Desce seus pensamentos sublimes
Sobre a alva bruma matutina
Mas é pisoteado pela lentidão
Das coisas imóveis
Seus olhos miúdos, atentos ao mundo
Pedem mais que as águas do rio
Trazem mais que as mágoas do martírio
E sedentos fitam o infinito.
Calmo e sereno, o tempo não tem pressa
Mas mesmo com a estática
Da vida interiorana
Alcança a imensidão
Vela altivo as novas que vem de cá
Seus pés trazem a mesma terra vermelha
Que impregnou os meus
São nossas raízes afloradas
Em nossas convicções
Abre sua boca, que já é sol
Em nossa casa.


Para meu amigo Túlio Henrique





Tua música ainda ecoa
Em meu seio
Entreguei-me
Aos teus sons
Soltos, como teus cabelos
Mergulhei em seus olhares
Mar de Copacabana
Num dia ensolarado
Adoro teu sorriso
E essa tua forma
De falar de amor
Tua leveza
Vence minha angústia
Sempre me fará rir
Traz a brisa macia
E boas novas que vêm de lá.


Para meu amigo Leandro Jardim




Laríssima pessoa
Descobri-me ontem
Singularíssima pessoa
Now I sing the song
Laríssima são todos
Singularíssimas pessoas
Laríssima, sou
Laríssima pessoa.


E uma brincadeira minha, para mim mesma

3.4.07

bagaceira #4






Meu olho esquerdo
Não repare
Não me olhe muito
Pois percebi agora
Que meu olho esquerdo
É enorme
Mais permissivo
Mais revelador
Menos punitivo
Menos constrangedor
Quem me dera tivesse
Dois olhos esquerdos
Para ver apenas um lado
Para perceber melhor os outros
Pois meu olho direito
Só inflama
Só me reprime
Só me engana.

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As águas como as mágoas
Passeiam pelas anáguas
Das moças da cidade
Que vertem seus olhos
Aos rios que nelas deságuam
As águas como as anáguas
Entregam-se aos igarapés
Encharcam-se de mundo
Mergulham até o fundo
Para voltar à tona
Secam.
As mágoas e as anáguas
Apertam as carnes
Sufocam a alma
Por que tudo que queriam
Era não existir.


***********


Elegias
Cantaram-me poemas doces
Quando meu corpo reluzia jovem
Na vã adolescência, no rubor das faces,
Nos meus falsos pudores, que eram muitos,
E minha alma pobre fazia-se esparsa...
Fizeram odes de amor de primavera
Trovas ao som de bandolins floridos
Tanto carinho a mim cedido
Enquanto eu me bastava,
Que nada disso desejava...
Hoje faço elegias silenciosas
Choro aquele que fui
E que se deixou dizimar
Agora lembranças distorcidas
De um espelho quebrado em mosaicos.


*************


Caídos, entregues
Corpos lutaram
Entre si, não sabe-se
Se por amor, ou pela falta
Tombaram
Esvaídos,
Exaustos,
Quase que sem mote
Entregues à própria sorte
Jaz agora, sós...
Impróprios,
Inoportunos e pobres de si
Doaram-se,
Esqueceram-se,
Ai se fosse só a dor,
Ai se fosse só a morte.


***********

Fotos de todos os locais onde fiz lançamentos no www.latissamarques.com , na sessão fotos.



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