3.4.07

bagaceira #4






Meu olho esquerdo
Não repare
Não me olhe muito
Pois percebi agora
Que meu olho esquerdo
É enorme
Mais permissivo
Mais revelador
Menos punitivo
Menos constrangedor
Quem me dera tivesse
Dois olhos esquerdos
Para ver apenas um lado
Para perceber melhor os outros
Pois meu olho direito
Só inflama
Só me reprime
Só me engana.

*******


As águas como as mágoas
Passeiam pelas anáguas
Das moças da cidade
Que vertem seus olhos
Aos rios que nelas deságuam
As águas como as anáguas
Entregam-se aos igarapés
Encharcam-se de mundo
Mergulham até o fundo
Para voltar à tona
Secam.
As mágoas e as anáguas
Apertam as carnes
Sufocam a alma
Por que tudo que queriam
Era não existir.


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Elegias
Cantaram-me poemas doces
Quando meu corpo reluzia jovem
Na vã adolescência, no rubor das faces,
Nos meus falsos pudores, que eram muitos,
E minha alma pobre fazia-se esparsa...
Fizeram odes de amor de primavera
Trovas ao som de bandolins floridos
Tanto carinho a mim cedido
Enquanto eu me bastava,
Que nada disso desejava...
Hoje faço elegias silenciosas
Choro aquele que fui
E que se deixou dizimar
Agora lembranças distorcidas
De um espelho quebrado em mosaicos.


*************


Caídos, entregues
Corpos lutaram
Entre si, não sabe-se
Se por amor, ou pela falta
Tombaram
Esvaídos,
Exaustos,
Quase que sem mote
Entregues à própria sorte
Jaz agora, sós...
Impróprios,
Inoportunos e pobres de si
Doaram-se,
Esqueceram-se,
Ai se fosse só a dor,
Ai se fosse só a morte.


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Fotos de todos os locais onde fiz lançamentos no www.latissamarques.com , na sessão fotos.



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Um comentário:

Bruno Cazonatti disse...

Todas as letras são belas e maravilhosas!

Beijos
Brunø