14.10.06

bagaceira # 3



Tragédia em seis dimensões

No quarto, vovó Lourdes tranqüilamente repousava,
Na sala, Pedrinho fazia súplicas em sua oração,
Na cozinha, mamãe Maria loucamente berrava,
Na varanda, papai José ria para o céu com gratidão,
No banheiro, Paulinha descontroladamente chorava.
E na garagem... Zezinho esperava ansiosamente o rabecão.

Antes rimas baratas e honestas do que prosa medíocre, copiada, xerocada...

Otávio Augusto
http://www.ocontistacronico.blogspot.com/





De tudo o que mais gosto
Mulher
É do sabor
Mulher
Mesmo se mau gosto
Amargo
Inclusive nunca uno
Como o olhar
mulher
Sempre infiel
Gatuno
Porque feito sonho
Pão nosso de cada pecado
Amasso e vicio
Oficio do diabo
Amor
Paixão não mata
Fome
Engana a alma
Bruma de mentira na fornalha
Incha sem encher
Engorda de não comer
Saciado de bromato
Embromo a vida

Aluisio Martins
http://fenosefenotipos.zip.net/


JUS ESPERNEANDIS


VIVER
é jogar um jogo
inventado por um demente
a quem ninguém conhece
e a quem todos chamam Deus
O PIOR
é que Ele manipula as peças
vicia os dados
e marca as cartas
NINGUÉM o vence
nunca
e todos somos obrigados a jogar
é como se estar no corredor da morte
pouco importa
o mover-se
ou
o ficar parado
VIVER
é um eterno jus esperneandis


Cláudio B. Carlos (CC)
http://www.balaiodeletras.blogspot.com/



quero um jardim
[em mim].
flores cor-de-riso,
de-beijo,
de-festa.

quero uma floresta
[em mim].
orquestra-de-tons,
de-cheiros,
de-águas.

quero uma vida
[em mim].
movimento-de-letras,
de-imagens,
de-pernas.

quero uma história
[em mim].
contada-de-perto,
de-tato,
e de-olfato.

Nanna Branco
http://enfimtudodenovo.blogspot.com/


*(não consegui o espaçamento original do poema)


CÁLICE PARA SEMPRE

só uma cachaça
me embriaga
sem problemas.
minhas doses diárias
de poesia,
não me causam azia,
causam poemas.

Múcio Góes
www.e-diversos.blogspot.com





Meus 52 anos
Na certeza dos meus vividos 52 anos
Descobri que o bom
Era as incerteza dos 32 anos.

A vida é esta possibilidade de viver
bem o hoje
Na incerteza de amanhã!

Viva!

Bira de Assis
www.poeteaviva.blogspot.com





POEMINHA TERMINAL

Tudo bem, tudo bem,
arrebata-me, canção.
Me arrasta pelos ares que respiro.
Porque pra peito de poeta,
todo remédio é placebo sabido.
Estou comprimido.

Tudo sem, tudo sem,
sem problema, faz teu jeito.
Tudo sempre faz poema, e eu me viro.
Porque quem sente pra canção,
faz tempo já cansou do meio são.
Estou preventivo.

Tudo zen, tudo zen,
são meus instantes instantâneos.
Centelhas e calmantes que me partem de suspiros.
Porque pra quem é arte momentânea,
a perda de sentidos funda o branco.
Já estou mais brando...

Leandro Jardim
http://florespragasesementes.blogspot.com/


certidão de casamento, em combustão

{tenho o fogo!
ateei fogo
em um laço empapelado
agora são apenas cinzas
outrora em meu peito um grito
que flutuam, caindo em um céu finito
me recordo que do pó
}reintegrando suas cinzas em fogo{
eis que renascerá,
ave fênix!}

Fernando Couto
www.egoemcacos.zip.net



IR

Eu decidi.
E foi como levantar a espada à altura
do nariz
Olhar de soslaio
E ajeitar o topo da cabeça
O chapéu emplumado
Flexionar de leve
O joelho esquerto
Franzir o rosto
Gritando"EN GARDE!!"
Com o corpo já em movimento transversal
A espada mirando no entre-costela.
Tinha que ser assim.
Se eu respirasse,
Mudaria de idéia.

Czarina das Quinquilharias
www.sabedoriadeimproviso.blogspot.com


Antitérmico, analgésico,
Anfetamina, antidepressivo,
Tudo que é corrosivo
Para aliviar nevralgias,
Dores de viver...
Sedativo paliativo reativo
Placebos para matar o tempo,
Para curar da vida.

Larissa Marques
www.larissamarquespoeta.blogspot.com



(ainda falta 1 poema para editar)

6.9.06

bagaceira # 2




Encosto

Sentou-se confortavelmente em sua cadeira acolchoada. Respirou profundamente por duas vezes, pois gostava da sensação do ar fresco enchendo-lhe completamente os pulmões. Corrigiu a postura, aqueceu os pulsos, estalou os dedos todos – um a um, num som alto e doloroso –, coçou a cabeça esboçando um sutil sorriso, estava ficando empolgado.
Sentia-se assim sempre que percebia que teria uma idéia ou que a inspiração o tocaria para que pudesse criar, escrever! Da gaveta à esquerda retirou uma belíssima folha em branco e, com todo o cuidado para não dobrá-la, repousou-a suavemente sobre a superfície de madeira, de tal forma que gastou alguns segundos para alinhá-la paralela e perfeitamente em relação à borda da mesa. Sorriu orgulhoso, aproximando o olhar para contemplar as intocadas texturas do papel.
De outra gaveta retirou um estojo de madeira antiqüíssimo e, deste, um lápis novinho. Retirou também um apontador de metal e pôs-se a afiar o instrumento, sem pressa alguma, como se aquele ato lhe fosse suficientemente prazeroso para que pudesse continuar a executá-lo eternamente se preciso. Após algumas voltas contra a lâmina de metal, parava e observava o grafite surgir do centro da madeira. Ainda não estava bom, apontou-o mais e mais.
Repousou o lápis ao lado do papel com um descaso milimetricamente estudado. Voltou a estalar os dedos, desta vez de forma mais rápida e discreta, remexeu-se na cadeira e respirou fundo novamente. Ah! Estava definitivamente pronto. O claustro repousava sem silêncio, nenhum ruído, nenhuma conversa, nada que pudesse atrapalhá-lo. Dá janela vinha apenas a luminosidade necessária para que pudesse escrever e, constatando tudo isso, empunhou o bendito lápis e usou-o.
Escreveu menos que uma dezena de palavras e parou abruptamente. Não estava satisfeito, era mais um de seus clichês dando as caras naquelas poucas palavras. Levantou os olhos para o ambiente em busca de uma outra inspiração, olhando além dos móveis para vasculhar a própria consciência, mas nada.
Estava vazio. Por mais que tentasse pensar em algo, encolerizava-se e sentia o rosto enrubescer-se. Não conseguia lidar com sua falta de imaginação e toda vez que lhe faltavam idéias era tomado por uma raiva repentina que de nada o ajudava. Bateu as mãos na mesa e, irritado, esbravejou: “Dragão! Pé-cascudo! Coisa-ruim!”.
Quebrou o lápis e arremessou-o para a rua. A folha, pobrezinha, foi compactada em uma pequena bolinha de papel que foi parar sabe-se lá onde. Trêmulo e quase sem fôlego, deixou o quarto batendo a porta com força, ainda resmungando: “Malvado! Porco-sujo!”.

Bruno Cardoso
trenodia@gmail.com



Noturno

Gritos afiados
Afinam o rito
Amor de guardanapo
Dura essa noite
Eterna
Ternas promessas
Pernas
Para que te quero?

Aluisio Martins
www.fenosefenotipos.zip.net


A MORTE SENDO

quero morrer velho
como um jovem,
trocando as palavras,
as pernas,
tremendo as mãos
a cada aceno,
temendo ou não
a cada cena.

quero morrer jovem,
mesmo estando velho,
vítima de um poema,
um grave poema alado.
sem memória,
mas com história
para cantar.

quero morrer sorrindo,
rindo da cara do tempo,
com um sol lindo, indo,
e eu ali, jogado,
com meus poemas
e tempo pra tudo que é lado.



Múcio Góes
www.e-diversos.blogspot.com



Naufrágil

Soçobra o navio,
Mas a banda ainda toca
Afunda no frio
Sustentando cada nota

Soçobram as horas
Vai fugindo cada segundo
Como se fosse primeiro, agora
Subindo-bolha do fundo

Soçobram os vazios que a água invade
O convés, fustigado pelo granizo
Soçobram as meias verdades
Com a última tábua do piso

Os panos
Os ventos
As velas
As luzes
Soçobram
Só sobram
Sombras.

Czarina das Quinquilharias
www.sabedoriadeimproviso.blogspot.com



A Cor do ego
entre tantos
entre cantos
sob tetos e paredes...
no labirinto
na tocaia
laçado a super- redes...


paralelo sem saída
ao espelho...
paralelo, sem saída

torno meus olhos
adentro as entranhas
e negro, vejo.

Fernando Couto
furdscouto@hotmail.com


Queda

A queda faz o pulsar das horas
transgredir.
Assim como o caminho, as vontades
subvertem-se.
invertem-se os sentidos e os motivos
não divertem.

Ruir,
o resultado indesejado com seu gosto
amargo.
Inintensionalmente vai sendo saboreado.
a digestão é lenta, asiática,
requer paciência.

Mas ao desgosto cabe também o destino
de todos:
morrer,
desde o nascimento, aos poucos.

Leandro Jardim
www.florespragasesementes.blogspot.com



O centro que me tira do eixo

Por que você fica mais à esquerda
Do meu, por ti, já pequeno peito,
Se você vira o centro do meu ser
Nos receados ou ávidos momentos?

Talvez por isso que na glória ou na perda,
No sol a pino ou no meu leito,
Você tire esse ser torto do seu eixo,
Já que você pesa mais nesses momentos
Tais onde se emaranha o denso!

E sendo um fadado centro,
mas não estar, em mim, centralizado,
Tira-me o eixo e me e se contraria...
Rompendo-nos, nos ligeiros giros,
Nessas revoluções em forma de dias...

Augusto Sapienza
www.tomospoeticos.blogspot.com







5.8.06

bagaceira # 1



Encontro


não há pontes na vertigem
talvez o contrário
que há também no vôo
mas não preciso tirar os pés do chão
pra mergulhar no azul

quem vai mais alto:
ele, o helicóptero,
ou eu que sonho?

quem vê mais longe:
ele, o panorâmico,
ou eu que eternizo momentos?

entre respostas,
fico com o contraste.


Leandro Jardim
www.florespragasesementes.blogspot.com


O sabor do fel alojou-se na flor

forjei-a entregando
o semblante de mulher
o amargo tempo ao tempo
se entrelaçando, meu mel
amor de bordel fez-se doces nozinhos

rodeios de sorrisos, surpresa
contatos físicos, gentileza
com muito esmero, feito por mim
um brilho de faca, sendo assim
cheiro de sangue no ar

antes do nó; apenas duas pegadas; areia
do mar
ainda no nó; a glória de chorar;
inovação da alma não mais nó; incapacidade de amar; as
raízes da calma
dentre o nó; o interlúdio

o sabor do mel, alojou-se na dor


Fernando Couto
furdscouto@hotmail.com




Deixo claro o manifesto
Apologia ao que amo
Dedo médio ao que detesto
Sou bagaceira
Sou mundano
Bagaço do engano
Filho da hipocrisia
E da completa insanidade
Que se dane o engenho
A cana, a garapa,
O álcool, o açúcar, os dramas,
Sou bagaceira
Que te engana
Que fermenta
Que fede
Incomoda e reclama
Sou bagaceira
Que inflama.

Larissa Marques
http://www.larissamarquespoeta.blogspot.com/

Homenagem à pequena amora

Foi pequena amora!
Pequena, pois tempo foi curto aroma...
E fruto, pois intenso foi o sabor...
Seu amor feminino, amora!

Ardemos como fogo,
mas acabou,
porque fluímos como água!
Não poeto aqui por saudade,
te faço apenas, homenagem!

Foi amor, aroma, minha amora!

Augusto Sapienza
http://tomospoeticos.blogspot.com


O desenho é de autoria de Larissa Marques.

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