18.7.08

bagaceira #14



Um ataque de puro egocentrismo
Um ataque de puro egocentrismo
Excêntrico e emblemático aval
De um noivo abandonado e grávido
No inferno caótico de uma igreja

O futuro de um presente em destranque
Entre o abismo de ser fundo e mortal
Na mudança de ser o que se é de repente
Não ser o que se era em se tornar diferente

O diferente pode ser condenação
Um chamado para a morte dolorosa
Mesmo vão que fez com que acovardassem
E transformassem em carnaval

Delicado fez papel de durão
E o tirano fez-se mocinho
Tinindo tirando

Fiquei sozinho por escolha ou instinto extinto
Mas quanto mais o tempo passa mais certo fico
Fico certo qu’eu errei, tropeços, drops e drogas

Enquanto chama de ladrão o periquito
Que assistiu sua terra virar terra deles
Zé Carioca preguiçoso e caloroso
Malandro enquanto for de brincadeira

Por muito tempo confundiu minha cabeça
E embriagou minhas certezas com cachaça
Era brava e não deixou nada no lugar
E o nada só deixou mais vazio

O dano é irreversível e cruel
O mesmo fato que é fatal e desumano
Quando não entendemos mais nada sobre nós mesmos
E decidimos não gastar nossas reservas
Pois já está abaixo, o limite sempre baixo
E cada vez mais fundo fica o buraco.

Sonos
http://felipesonos.blogspot.com/

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Engenharia Reversa

O marceneiro talha a forca e o berço,

O químico concebe o veneno e a cura,
O vigário que beatifica, desconjura.
E a mão que iça a lança, reza o terço.

A sombra que traz o medo dá o abrigo.
No azul que cobre o céu cruza o fogo,
Do chão que brota o verme vem o trigo
E a mão que dá as cartas, finda o jogo.

O mesmo Deus que perfilha, ignora.
A poesia que transcorre se desgasta
E a palma que se cerra, nos implora.

A mão que dá o nó arquiteta o corte,
A que diz de amor, ergue a vergasta
E a que conta a vida, versa a morte.



Jairo Alt
http://ecoscorporeos.blogspot.com/
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Perdoe e esqueça-me!

se estou adiantada
e minha unha desfeita
a pretexto da tua tão
bem pintada


é que vivo esse destempero
não sei se remoçar
ou envelhecer e enrugar
invólucro decadente
com quinhão rosto ou
boceta

bastam-me os dentes
carne crua sangrando
e a desfeita no perder da dentadura

e enquanto a galinha da angola
desfeiteia-se em “tofracos”
estou forte e miro entre os olhos

desculpo-me mais uma vez
por estar na frente
e rir enquanto perde tempo
e por ainda chorar meu pai
general de alta patente
que perdeu-se
entre as putas do fronte

se não me atrasei
é por falta de zelo
e me despeço
por ter mais o que fazer!

Aline Castro