18.9.07

bagaceira #9




Náusea
.
Arrasto-me e alguma coisa sussurra:
“Hoje a noite não será pura”
Gargalho com pétalas esmigalhadas na mão
Rio porque já conheço essa frase
Mergulho porque bem sei da danação
Alucino bocas podres
Elas querem dizer algo
Mas se desfazem...
Por favor, não prenunciem o mal!
Estou cansada e suja, sempre maldita
Na boca do lixo, comendo restos de sonhos
Escrevendo cartas para meu amigo invisível e medonho
Que nem sequer ler sabe
Mas sabe gritar no meio da noite
E atear fogo nas cartas, sem sequer abri-las
Adestrou-me no pequeno delito
De roubar flores no cemitério carnal
E oferecê-las á damas mafiosas e petrificadas
Macumbeiras do dizer e do amar
Alquimistas da beleza secreta
Escondida nas coisas mínimas
E quando desmaio ao relento
Ou vomito ao pé do escatológico
Há um altar para tudo isso
Até para carcaças, cantigas de piratas e olhos esbugalhados
Voodus, nojeiras e coroa de punhais
Tudo isso faz arder
Brilha frenesi...
Ave puta, ave palavra, ave náusea!


Rita Medusa

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A poesia e a cidade


a poesia,
como as cidades,
sofre (trans)mutação
de c(d)ores e c(v)alores
com o decorrer do tempo.

são (re)desenhadas
suas (de)formações,
(a)os mur(r)os e
fronteiras
(solavancos),
em tropeços.

criam imagens
(des)pretensiosas
que objetivam
(cor)romper
os costumes e leis
ingovernáveis.

e trazem em si
pessoas concretas
re(di)solutas,
cheias de t(h)umores,
quase sempre
(hum)ilhadas.


Leonardo Quintela
http://leonardoquintela.blogspot.com/


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un novo homem

após uma noite de domingo inteira nas trevas ajoelhou-se frente a imagem de nossa senhora e prometeu: - nunca mais vou cheirar, beber, fumar, fuder sem camisinha, arrumar briga em bar, falar mal de deus, ofender pai e mãe e dar em cima de mulheres casadas. na segunda-feira de manhã, ainda com o nariz entupido e o estômago em chamas, fez o sinal da cruz, rezou um pai nosso, tomou banho, fez a barba, escovou os dentes, beijou a esposa e foi trabalhar. chegando ao escritório rezou novamente e pediu aos santos um bom dia de trabalho. no almoço dispensou a cerveja e comeu salada, peixe, arroz e feijão. um dia maravilhoso! às dezoito horas era a cara do herói. - um dia limpo! e ainda por cima de pagamento! pegou seu salário e se dirigiu a bodega do alencar. ia pagar a conta e nunca mais pisaria ali. era outro! tirou seus trezentos e cinquenta reais do bolso, pagou a conta e ganhou, por cortesia, um rabo de galo, sua bebida predileta.

Anderson H.
http://grupomola.blogspot.com/

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DES/CONSTRUÇÃO

Ontem chora o futuro.
É a opulência das lágrimas
que prediletam-lhe os olhos.

Ora,
repetição vã;
Pois sua prece é de pedra
e há reboco em seu coração.

Paixão...
é saltar sem asas.

É sufocação.


Muryel de Zoppa
http://grupomola.blogspot.com/

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não sei o que me move
se é tudo fosco
tudo mole
desfarela
ou derrete
num toque
num sopro

não sei o que me fode
se é tudo tosco
tudo prole
desvela
ou compete
num furo
num muro.

Larissa Marques
www.larissamarques.com


Patrocínio Sinos Papelaria

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