18.5.08

bagaceira #13



Canários

É quando beberica o Licor amargo
É quando, sem alvoroço,
recitam-lhe versos
os Pássaros que cantam-lhe melodias
E afina a viola e
raio, chuva e granizo
quedam
num espasmo (deleite) infindo e
gracioso

É quando o gozo

.

Muryel de Zoppa

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Arranhão

Acolher pragas
Semear o tétano da alma
Como se fossem as flores do campo
(enforcadas em maio)

Cuspir no amado prato
Recolher o humilhado rabo
Dentre as trêmulas pernas
Para não perder o ritmo
do rebolado

Falsificar o documento da existência
Clonar o poço da urgência
Manter-se em pé na corda bamba
feita de nervos e algodão
dizer sempre não
Quando o sim anseia um sibilo cristalino
e a alma um arranhado pequenino

Sonata enluarada...
somente parte de uma canção mais depravada

(nada que eu possa fazer pela poesia!)

Rita Medusa

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De novo

Estou feliz,
Não nego.
Açucarei
Esse copo de mágoa
Que carrego

Vem,
Coisa boa,
De novo se embrenha
Nos cabelos-cinza
Calor requeimado
Da minha
máquina
de amor a lenha.

Czarina das quinquilharias

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NO VIDRO

outros ônibus perpassam minha cabeça
é um reflexo translúcido e narcísico
do correr da noite às luzes
de dentro, consigo ver a via
mas não conjugo estar
condicionado a esse frio:
as pessoas da cidade vão
sem brio, com breu, sombrio
ou o pacto sempre são
de um bem estar vazio.

Leandro Jardim

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ensinou-me os paraísos
em todos os sentidos
aguçou minhas sensibilidades
debulhou imprecisas possibilidades
foi-se sem aviso
dilacerar novos seres...

e no negro da noite
esperei por ti
reinventei-te
em tragos descomunais
porções de haxixe
campos de papoulas...

e no negro da noite
entreguei-me a outros braços
a outros vícios
quis-me paraíso narciso
com cipós brotando nas narinas
seus olhos habitando minha vagina...

e no negro de meu ser
seu sexo ereto em minha boca
o martírio de vitórias-regias
em meus olhos
acordo sozinha
vazia de nós.

Larissa Marques

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RESTOS

Sem o sopro da vida
Continuo tentando existir
Insisto e grito
"Quero estar aqui"
Sou um emaranhado de tendões e músculos
Uma pilha de ossos tortos
Meus pobres órgãos danificados
Sou um conjunto inacabado
Sou a alma desencarnada
Ainda na terra enfronhada
Sou só
Sou pó
Mas ao pó ainda não retornei

Cristiano Deveras

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Não diz



Fiz um pacto com nós dois.



Fiz um pacto silencioso, unívoco.



Como se fosse um retorno ao primeiro encontro



As lembranças tornadas estáticas e ilusórias



Fiz um pacto para ser fiel a você,



Hoje não vou ser eu



Hoje, eu você eu,



Fiz um pacto sem pedir permissão,



Sem tomar decisões.



As sentenças eram olhares, gestos, toques...



Cada parágrafo um modo de ser



E, antes que julgássemos qualquer ato,



Qualquer distância



Era a pior sentença,



A sentença que eu não queria ouvir



A sentença que me condenava,



Resumida em duas palavras:



- Não posso.


Freddie Fernandes

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Patrocínio Editora Utopia

2 comentários:

Anônimo disse...

Que belo espaço esse aqui, moça, que bela idéia!
Vou voltar e ler um por um, com calma.

Anônimo disse...

todos lindos, mas o seu é de perder o fôlego. cza e jardim, sempre perfeitos, né?