10.9.08

bagaceira #15




Aruá

era passagem de ano magro.

eu e Filili,

sentados
na rede
de balança você,

embornávamos
a chegança
do boi encantado.

ele se saiu do inesperado!

do meio do vão da cerca viva!

correu pelo pasto, azuniu forrado,
acendeu o pisca alerta das guampas
e deu na carreira.

- óia, pai! óia!

o danado bateu cos casco e subiu
ambulância de queimação.

de cima das goiaberas
acaneladas
mugia presentes:

fogo, água, mel, chucaio, lanterna,
enxada, peixe, broto, boto, lenda
e fetiche.

- óia, pai! espia! é o papai noel!
- né não fia! é só o Aruá querendo peia...

Anderson H.
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SERTÕES

É Pedra que, à luz do dia, transpira e faca que, educada em pedra, emoldura a tripa.


É sede do barro costumeiro.


É o batalhar dos calos sob o reflexo solar dourado do fado.


É Lampião que, co’os pés trincados, pernambuca de chão a chão.


É tal qual o vento trafega a poeira, que sapeca o couro e dança o facheiro, esquenta o sol cajado e o cangaceiro.


É cordel cantoria, é língua quente, que afia o facão co’água ardente.


É bala-sertão no catingueiro, é matéria sofrida da morte morrida, é carcaça passante de vaga-vida na ginga poeira que sec’a flor.





Muryel De Zoppa
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Asas de borboleta
Asas de borboleta , são meu momentos
micro-textura e diferentes pigmentos,
assim vivo das mudanças nas nuances
que se alternam entre o lilás e o negro,

desmancham-se num toque do dedo,
e voam para longe sem alarido em bando
[ igual passaredo]
os momentos que tenho vivido,

são dentes que rangem na boca da noite oca,
parede da cozinha repleta de fuligem,
lampião aceso acabando a querosene,
uma gana tamanha que herdei de origem,

e as minhas dores----- essas são leves,
e tão breves iguais-------------------------
-------------------------[asas de borboleta]



Maria Júlia Pontes
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limítrofe

devotei-me à traição
e amo-te em mosaicos conflitantes
resisto ao seu querer
e persisto dissociada
em dúvidas e orgias ficcionais
extremos passionais

soul-te inteira
sem limites tênues
errante e impulsiva
idealizo tudo
a crença utópica
do endeusar pagão
dilacero-te e peço-te
não me deixe morrer só!


Larissa Marques

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Quanto custa uma poesia?
quanto custa uma poesia?
quero uma bem bonita
que rime amor com dor
e fale de beija-flor

quanto custa uma poesia?
preciso muito dela
para encantar alguém
que me trata com desdém

quanto me custará?
sua profusa inspiração
que terei usufruto
posto acertado e justo

quanto me custará?
esses seus versos perfeitos
feito, consignado
por um amor simulado

e eu pagarei o preço!
na mancha do seu sangue
escorrido e humilhado
por ter sabido demais...

Leonardo Quintela

Um comentário:

ACADEMIA MACHADENSE DE LETRAS disse...

Câncer!

Ali está ele!
Quieto e devorador,
Escondido em seu D.N.A.
Destrói, neutraliza
Aniquila tudo em volta

Em tudo ele corre:
Em cada ponto, em cada vírgula,
Sem reticências.

Ousa roubar-lhe
O resquício que lhe resta de vida:
O vazio, o zero, o nada absoluto!

Ele se aloja em um repúdio
Sinônimo de antônimo feliz.
... A cada instante a vida se esgota.

Tu enxergarás na escuridão benigna,
Porém, ele, em clareza, no Tártaro.
Sofrerá calado, extirpado,
Em trevas malignas

*Agamenon Troyan