10.11.08

bagaceira #16


a realidade refuta
e redunda na ilusão
sim, aquela grata ,que nos fere
e nos cala
tal chibata em tronco de perdição

talvez eu fique presa
pelo serpentear e o repique
de tua voz de gargalo
tentando convencer-me
a despir-me de luta

e quem sabe por algum minuto
ou vários, permita-me ser surda
ou solta, sem castigos ou mentiras
só ou contigo em insanidade
entregue à leviandade, cobiça da carne

por hora, sinto-me bem por não ter cedido
aos devaneios de uma vida rapariga
escondo-me ainda nesses risos falsos
em torturas desmedidas
sob meia dúzia de saias floridas

ledo engano essas verdades absolutas
como se não houvesse antônimos
nesse cárcere interno, no inferno íntimo
que ata-me ao teu terno de risca-de-giz
e ao teu chapéu de aba curta

convenci-me da relatividade de tudo
sem as certezas ou dúvidas que nos cercam
quem não vive assim,
não sabe do absurdo
que cega o santo e inspira o vagabundo

eis que nesta hora incerta, sã
por tudo que pude ter e perdi
que valho-me da falta de fé e da descrença
dou-me algumas gotas de mortal veneno
pois a esperança é que me mata.


Larissa Marques

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a realidade refuta
e redunda na ilusão
sim, aquela grata ,que nos fere
e nos cala
tal chibata em tronco de perdição

talvez eu fique presa
pelo serpentear e o repique
de tua voz de gargalo
tentando convencer-me
a despir-me de luta

e quem sabe por algum minuto
ou vários, permita-me ser surda
ou solta, sem castigos ou mentiras
só ou contigo em insanidade
entregue à leviandade, cobiça da carne

por hora, sinto-me bem por não ter cedido
aos devaneios de uma vida rapariga
escondo-me ainda nesses risos falsos
em torturas desmedidas
sob meia dúzia de saias floridas

ledo engano essas verdades absolutas
como se não houvesse antônimos
nesse cárcere interno, no inferno íntimo
que ata-me ao teu terno de risca-de-giz
e ao teu chapéu de aba curta

convenci-me da relatividade de tudo
sem as certezas ou dúvidas que nos cercam
quem não vive assim,
não sabe do absurdo
que cega o santo e inspira o vagabundo

eis que nesta hora incerta, sã
por tudo que pude ter e perdi
que valho-me da falta de fé e da descrença
dou-me algumas gotas de mortal veneno
pois a esperança é que me mata.

Anderson H.

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PRONOME

"Estou aqui, mais do que isso não sei."
(Kafka)


Ontem fiz aniversário.

Ansioso, convidei a mim mesmo.
Pensei que não aceitaria, mas aceitei. Pensei que não viria, mas vim. À porta, me vi trajado a rigor, me visto bem, exercito Armanis. Me cumprimentei, teci alguns comentários sobre Rimbaud, o 3- reich e, pasmem, fiquei-me... como me gosto!
Só eu e eu na festa de mim.
Impetuoso, tomei-me logo pelos braços e me levei ao quarto, na vitrola Duran Duran, mas gostamos mesmo é de Accept, eu e eu. Na cama, entreguei-me por completo a mim, beijando onde podia e cabia e delineando a entrega do que me tinha, me possuí com completude e vigor.
Me despedi quando já amanhecia e prometi me ligar assim que pudesse. Fui.

Hoje estou sábado.
E me espero ansiosamente.




Muryel De Zoppa
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Macarrão com vatapá



Eu tenho o branco na pele
que herdei da palma da mão
dos meus antepassados,



cabelos louros Afro-Ítalo-Sul-Americanos
[encaracolados]
fragmentos do negro e do mouro,



o sangue que corre em minha veia,
escorre farto em cadeia
e nos barracos das favelas,



as lágrimas que rolam aqui,
vieram de outro quintal
no dia que a nau aportou
trazendo um certo Cabral.



Então, sou assim, preta, branca, mulata,
brasileira, faceira, incansável acrobata.


Maria Júlia Pontes
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Quem disse

Quem disse
E dirá
Ainda?
Triste foi
Mas valeu
Ter sido
Sofrido
Este amor
Que veio
E partiu.
Pois viví
O intenso
Momento
Contigo.
Não ganhei
Nem perdi
Apenas,
Te viví.

Leonardo Quintela

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